Venezuela convoca embaixador no Brasil após falas de Amorim
Governo venezuelano convocou representante diplomático nesta quarta-feira
O governo da Venezuela convocou para consultas, nesta quarta-feira (30), o seu embaixador em Brasília, Manuel Vedell, depois de rechaçar como “ingerencistas e grosseiras” as declarações de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro, em particular de Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
– Informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, foi decidido convocar para consultas, de maneira imediata, o embaixador Manuel Vadell, que nos representa em Brasília – afirmou a chancelaria venezuelana em comunicado.
Nesta terça (29), Amorim declarou que “o princípio da transparência não foi respeitado” nas eleições presidenciais de 28 de julho, razão pela qual a proclamada vitória de Maduro não pode ser reconhecida.
Da mesma forma, o assessor de Lula disse que, em suas tentativas de mediação, o Brasil tem se orientado pelos princípios da “defesa da democracia, não ingerência em assuntos internos e resolução pacífica das controvérsias”.
Em seu comunicado, o governo da Venezuela manifestou, mais uma vez, o seu “total repúdio” à “atitude antilatino-americana” consumada no “veto aplicado pelo Brasil na Cúpula do Brics em Kazan, na Rússia, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização”.
– Da mesma forma, denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariando a aprovação dos demais membros do Brics, assumiram uma política de bloqueio, semelhante à política de medidas coercitivas unilaterais e de punição coletiva de todo o povo venezuelano – acrescentou o Ministério das Relações Exteriores venezuelano.
A chancelaria ressaltou ainda que a Venezuela se reserva, no âmbito da sua política externa, a ações necessárias “em resposta a tal atitude, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto que até agora foram desenvolvidos em todos os espaços multilaterais”.
Segundo o comunicado, o ministro das Relações Exteriores do país caribenho, Yván Gil, reuniu-se com o “encarregado de negócios do Brasil”, a quem não identificou, para expressar seu “mais firme rechaço” a essas ações.
Desde o último mês de fevereiro, Brasil e Venezuela intensificaram suas relações diplomáticas, razão pela qual Brasília nomeou Glivânia Maria de Oliveira como embaixadora, em substituição do até então encarregado de negócios, Flávio Macieira, nomeado embaixador do Brasil na Irlanda.
No entanto, as relações bilaterais entre os dois países deterioraram-se gradualmente após as eleições presidenciais venezuelanas, especialmente por causa do posicionamento do Brasil de requerer a ata detalhada do processo, o que também é exigido por grande parte da comunidade internacional, por considerar que não há evidências da vitória proclamada por Nicolás Maduro.
A tensão com a Venezuela, que se arrasta há semanas, agravou-se na semana passada, quando o governo Lula se recusou a aceitar o país vizinho como novo membro associado ao Brics, bloco fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.