Política

Javier Milei é eleito presidente da Argentina

Os argentinos votaram neste domingo (19) no segundo turno das eleições para presidente entre o ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, e o libertário de extrema direita Javier Milei, uma disputa acirrada que transcorreu em clima de extrema tensão.

No meio de uma grave crise econômica, a campanha eleitoral ocorreu entre os sentimentos de raiva com a política tradicional representada por Massa e medo diante das propostas radicais de Milei.

As pesquisas preveem um empate técnico dos dois candidatos, com muitos argentinos que deixaram para decidir o voto no último minuto.

A jornada eleitoral transcorreu sem incidentes. Milei, um economista de 53 anos que se define como anarcocapitalista, votou por volta do meio-dia em Buenos Aires, em meio à comoção de seus seguidores que cantavam “a casta tem medo”, em referência à classe política.

“Esperemos que os números sejam tão claros para que hoje [domingo] à noite tenhamos um presidente eleito”, disse o candidato, acrescentando que estava “muito tranquilo”.

Massa votou na localidade de Tigre, seu reduto ao norte Buenos Aires, onde tirou diversas fotos com simpatizantes sob um sol intenso.

“Esperemos o resultado com tranquilidade, com esperança e, sobretudo, com otimismo de que o futuro da Argentina nos encontre melhores e mais unidos”, disse o advogado de 51 anos e longa trajetória política. 

Os centros de votação foram fechados às 18h e o índice de participação foi de 76% em um universo de 35,8 milhões de eleitores.

– ‘Esperando os golpes’ –

Com uma inflação de 143% em termos anuais e a pobreza que afeta 40% da população, a Argentina enfrenta a pior conjuntura econômica nas últimas duas décadas.

No primeiro turno de 22 de outubro, Massa, centrista, recebeu 37% dos votos e Milei, 30%. Terceira colocada, com 24%, a conservadora Patricia Bullrich, candidata da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, anunciou apoio ao candidato libertário, assim como o ex-presidente liberal Mauricio Macri (2015-2019).

“Independentemente do que aconteça, não vemos um bom futuro. Estamos esperando os golpes. Não acontece como nas outras eleições, em que votei com convicção, agora voto sem convicção”, disse Mariano Delfino, eleitor de 36 anos, na periferia de Buenos Aires.

Para recuperar a terceira maior economia da América Latina, Massa e Milei oferecem saídas antagônicas para uma sociedade polarizada, onde reina a desesperança.

“Gostaria de dizer que estou feliz por ter ido votar, mas, na realidade, o sentimento é de desilusão por ter que votar no menos pior. Desejo fortemente que a pessoa que vença esteja à altura das necessidades da Argentina e não nos decepcione”, disse Guillermina Carbonatto, una estudante de arquitetura de 19 anos.

Enquanto Milei propõe medidas drásticas como a eliminação do Banco Central e a dolarização da economia para acabar com a emissão monetária e a inflação, Massa defende um Estado “forte e protetor” e um plano gradual para ajustar as contas.

“As medidas de Milei seriam todas rápidas e simultâneas. Com Massa seria um processo paulatino”, declarou à AFP o economista Víctor Beker, da Universidade de Belgrano.

“O que para Milei levaria dois meses, para Massa levaria quatro anos: chegar ao final do mandato com a taxa de câmbio liberada e equilíbrio nas contas”, acrescentou.

A Argentina tem um acordo de crédito desde 2018 com o Fundo Monetário Internacional (FMI) de 44 bilhões de dólares (quase 215 bilhões de reais na cotação atual), negociado pelo então presidente Macri, e aplica desde 2019 um sistema de controle cambial. 

Massa afirmou que se vencer pretende revisar o empréstimo, que já foi renegociado em 2022 com um compromisso para reduzir o déficit fiscal a 0,9% do PIB em 2024. Para Milei, que propõe cortar os gastos públicos em 15%, as metas do FMI ficam aquém.

“Porém, cortar o gasto social é complicado, porque tem impacto sobre a pobreza”, alertou a economista María Laura Alzua, da Universidade de La Plata, que calcula que os subsídios para os serviços de energia elétrica, gás e transportes representam 2% do PIB.

“Votei naquele que pode causar menos danos ao país, que está em uma situação muito complicada”, disse Laura Coleman, uma enfermeira de 25 anos, na saída do centro de votação.

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