“Vai continuar acontecendo”, diz Pedala Manaus após ciclista morrer atropelado
Coordenador da entidade atribui morte à falta de políticas que tornem o trânsito da cidade menos hostil a ciclistas. Cosme Pereira Paixão, 45, morreu atropelado enquanto pedalava para o trabalho, na Torquato Tapajós, na manhã deste sábado (20)
Um ciclista identificado como Cosme Pereira Paixão, 45, morreu atropelado enquanto pedalava para o trabalho na manhã deste sábado (20), em Manaus. O motorista fugiu do local sem prestar socorro. O caso aconteceu na avenida Torquato Tapajós, sentido Bairro-Centro. A morte se soma a outros mais de 30 casos de ciclistas que perderam a vida no trânsito de Manaus desde 2013, conforme o coletivo Pedala Manaus, que registra as ocorrências.“É mais uma morte e, se o poder público, até mesmo a sociedade, não mudar essa percepção e entender que a bicicleta faz parte do trânsito e que mais uma vida tem que ser preservada, as mortes vão continuar. É a falta de políticas públicas, de uma discussão muito mais ampla sobre o que é a mobilidade urbana, qual a importância do uso da bicicleta para a cidade, para as pessoas”, avalia o coordenador do Pedala, Paulo Aguiar.
Dados da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) revelam que Manaus é a capital brasileira com menos ciclovias e ciclofaixas por habitantes. A cada 100 mil pessoas, há 1,55 quilômetros de malha cicloviária. Para se ter ideia, o penúltimo lugar, São Luís (MA), tem mais que o dobro (3,23 km) da cidade amazonense.“Enquanto a gente não tiver ciclovias, infraestruturas seguras para o ciclista, enquanto tiver essa cidade com vias, com velocidades muito altas, enquanto não tiver fiscalização e uma conscientização maior por parte, não só do motorista, mas da população em si, as mortes vão continuar”, reforça o ativista.
Malha cumpre 18% do plano
Instituído em 2015, o Plano de Mobilidade Urbana de Manaus traz como uma de suas dez principais diretrizes a ampliação do sistema cicloviário da cidade. Há, inclusive, uma proposta de 190 quilômetros, com indicações de ruas, para interligar bairros a áreas centrais. Porém, oito anos depois, Manaus chega a apenas 35 quilômetros – 18% do previsto.
A malha foi construída durante as gestões do ex-prefeito Arthur Neto. Algumas receberam fortes críticas pela forma como foram construídas. A primeira, do Boulevard, foi feita por cima da calçada. A segunda, na avenida Coronel Teixeira, compete com os carros. Foi, inclusive, alvo do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), que a classificou como “desastrada”.
Em 2021, já na gestão do prefeito David Almeida (Avante), a prefeitura assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para tirar a ciclofaixa e colocar no lugar uma ciclovia. O anúncio do início das obras foi feito em maio de 2023.
A reportagem entrou em contato com o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) para saber se o órgão acompanha o caso – dada a relevância – e como estão os trabalhos de manutenção e possível ampliação de ciclovias e ciclofaixas em Manaus. Ainda aguardamos retorno.
*Com informaçôes de A Critica