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STF: Moraes se irrita ao saber por Mauro Cid que Bolsonaro supostamente planejava deixá-lo como “único preso”

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou em interrogatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) que Bolsonaro revisou pessoalmente um rascunho de decreto que supostamente ‘sugeria anular as eleições de 2022, instaurar uma nova comissão eleitoral e até prender autoridades’, entre elas o ministro Alexandre de Moraes.

De acordo com Cid, Bolsonaro chegou a modificar o conteúdo do documento, removendo parte dos nomes indicados para prisão, mas manteve a menção a Moraes. “De certa forma, ele enxugou o documento, retirando autoridades das prisões, ficando somente o senhor como preso. O resto…”, disse Cid, ao que Moraes respondeu com ironia: “O resto foi conseguindo um habeas corpus”.

O depoimento foi dado nesta segunda-feira (10), durante a primeira audiência de interrogatórios dos réus do chamado “núcleo central” da tentativa de golpe, que investiga uma suposta articulação para subverter o resultado das eleições que levaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao terceiro mandato.

Ao longo do interrogatório, Mauro Cid procurou afastar a tese de que havia uma organização formal com plano de tomada de poder. Segundo ele, Bolsonaro era procurado por diversas pessoas com ideias “radicais ou conservadoras” sobre como reagir ao resultado eleitoral, mas não havia um grupo coeso.

Os grupos não eram organizados. Era cada um com sua ideia. Não existia uma organização nem reuniões. Eram pessoas que levavam ideias ao presidente”, disse.

Questionado por Moraes sobre quem, entre os réus, teria atuado diretamente a favor de um golpe, Cid mencionou Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, como um dos mais incisivos. “Classifiquei entre um dos mais radicais”, declarou. Já sobre o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, Cid disse que sua atuação era mais moderada.

As falas causaram desconforto visível entre os presentes. Quando Garnier foi citado como radical, seus advogados se agitaram no plenário. Um deles, o ex-senador Demóstenes Torres, foi visto cochichando ao ouvido do ex-comandante, enquanto revisavam documentos.