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PF Intercepta ligação de Salazar com milicianos: “Dava pra eu baixar o vidro e sentar o dedo neles”; Ouça áudio

Manaus – Uma gravação telefônica obtida durante a Operação Alcateia da Polícia Federal revelou uma conversa polêmica envolvendo o então policial militar e atual vereador Alexandre da Silva Salazar, mais conhecido como Sargento Salazar.

No diálogo interceptado, registrado no relatório da PF e captado com autorização judicial, Salazar descreve como seguiu dois suspeitos de um assalto e teve oportunidade de matá-los, mas desistiu por temer as consequências legais dentro da Polícia Militar.

Uma conversa telefônica interceptada durante a Operação Alcateia da Polícia Federal revelou um trecho envolvendo o então policial militar Alexandre da Silva Salazar, o vereador mais votado de Manaus eleito em 2024. No diálogo, captado com autorização judicial e registrado no relatório da PF, Salazar relata com detalhes que seguiu dois homens que cometeram assalto e que teve plena oportunidade de matá-los, mas decidiu não agir por receio das consequências internas na Polícia Militar. Ouça a interceptação na íntegra no fim da reportagem.

A interceptação ocorreu em setembro de 2015 mas só agora foi divulgado e integra o processo da operação “Alcateia” que investiga a existência de um suposto grupo de extermínio formado por policiais militares no Amazonas. Na gravação, Salazar conversa com um interlocutor identificado como Diniz, a quem narra o episódio e demonstra frustração por não ter disparado contra os suspeitos:

“Os caras estavam na minha mão, Diniz. Dava pra eu ter matado os dois (…) dava pra eu baixar o vidro e sentar-lhe o dedo neles.”

Durante o relato, ele se refere à repercussão negativa de uma morte anterior, sugerindo que a cúpula da Polícia Militar estaria sob pressão por conta da morte de um outro assaltante.

“Eu fui lá com o Comandante-Geral ontem… com a Major Romero… querem o nosso fígado lá, bicho, por causa da morte daquele assaltante lá…”

Segundo o promotor Flávio Mota, o teor da conversa indica possível familiaridade com execuções extrajudiciais, e pode ser interpretado como um indício de que o então policial tinha conhecimento prévio ou proximidade com ações atribuídas ao grupo investigado. “A naturalidade com que a hipótese de homicídio é tratada revela um ambiente em que esse tipo de prática era discutida informalmente entre policiais, fora dos parâmetros legais”, relata Mota.

O outro lado

Procurado, o vereador Alexandre Salazar confirmou o áudio como sendo dele. Afirmou que, de fato, seguiu os suspeitos de assalto e que até hoje se arrepende de não ter atirado, pois acredita que poderia ter evitado outros crimes. Salazar enfatizou, no entanto, que à época respondia apenas a um procedimento na Corregedoria da Polícia Militar, no qual foi absolvido, e que atualmente não responde a nenhum processo relacionado ao episódio.

“Foi um momento de desabafo. Eu estava indignado com a situação. Mas deixei claro que não atirei e que não cometi nenhum crime. A corregedoria reconheceu isso, e estou à disposição para qualquer esclarecimento”, afirmou.

Operação Alcateia

A Operação Alcateia, deflagrada em 2015, teve como foco desarticular esquemas de execução sumária supostamente conduzidos por agentes públicos. Diversos policiais militares foram denunciados e seguem sendo julgados pelo Tribunal do Júri. Apesar das denúncias e provas reunidas, parte dos acusados foi absolvida nos primeiros julgamentos.

Ainda nesta quarta-feira (02), a Justiça do Amazonas dará continuidade aos julgamentos de novos réus apontados como integrantes do grupo. O caso segue sendo acompanhado por entidades de direitos humanos e familiares de vítimas que cobram justiça e responsabilização dos envolvidos.