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Passageiros descrevem minutos de desespero durante queda de balão em Santa Catarina

O que deveria ser um passeio turístico se transformou em uma tragédia marcada por pânico e perda de vidas em Praia Grande, no sul de Santa Catarina

O que deveria ser um passeio turístico se transformou em uma tragédia marcada por pânico e perda de vidas em Praia Grande, no sul de Santa Catarina. Passageiros que sobreviveram à queda de um balão de ar quente, no último sábado (21), relataram os momentos angustiantes vividos a poucos metros do solo e que terminaram com oito pessoas mortas.

Desde o início, o voo já apresentava sinais de instabilidade. Segundo os relatos, o grupo precisou mudar o local da decolagem por conta do vento forte. Mesmo com a alteração, o balão decolou de forma instável. Muitos dos presentes nunca tinham participado de um voo desse tipo e não sabiam se aquele comportamento era comum.

Apenas dois minutos após a decolagem, o pesadelo começou. Uma chama surgiu no piso da cabine central, onde estava o piloto. As labaredas rapidamente atingiram um dos cilindros de gás e, em seguida, se espalharam para os demais equipamentos de combustível, causando o incêndio que resultaria na tragédia.

O piloto, Elves Crescêncio, tentou agir rápido. Primeiro, pediu calma aos passageiros e ordenou que todos se abaixassem no cesto. Em uma tentativa desesperada de controlar as chamas, tentou arremessar o cilindro em chamas para fora, mas o calor extremo tornou a tarefa impossível.

Sem conseguir conter o fogo, Crescêncio passou à última alternativa: realizar um pouso forçado. Ele orientou os passageiros a se prepararem para saltar assim que o balão tocasse o chão. Durante a manobra, o cesto já estava tomado pelas chamas.

A queda aconteceu em uma plantação de arroz, cuja lama acabou amortecendo o impacto e evitando que o número de vítimas fosse ainda maior. Os que conseguiram saltar sobreviveram com escoriações e ferimentos leves, enquanto outros foram arremessados para fora com o impacto. No entanto, com a redução de peso, o balão voltou a subir em meio ao fogo, levando as vítimas que não conseguiram escapar.

“Quando consegui abrir os olhos, achei que todo mundo tinha descido. Só quando me virei vi que o balão ainda estava no ar e que algumas pessoas começaram a cair”, contou, emocionada, a veterinária Laís Campos Paes, uma das sobreviventes.

A dor, no entanto, vai além das marcas físicas. Os relatos emocionados dos sobreviventes revelam o trauma psicológico deixado pela tragédia. “Parece que a gente está o tempo todo lutando contra os pensamentos”, disse Laís. Já Victor Hugo Mondini Correa, outro sobrevivente, desabafou: “A gente sabe que vai lembrar disso a vida inteira. Não existe apagar essa memória”.

Após o resgate, os sobreviventes foram levados para atendimento médico e psicológico. Eles também prestaram depoimento à Polícia Civil, que já iniciou as investigações para apurar as causas do acidente. O piloto afirmou em depoimento que o fogo começou na tampa de um dos cilindros e que o extintor de incêndio do balão não funcionou no momento crucial.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira, enviou especialistas ao local para realizar a análise técnica. O objetivo é identificar as causas da falha e avaliar se houve negligência por parte da empresa responsável pelo voo, a Sobrevoar, que informou ter suspendido todas as suas operações por tempo indeterminado.

A polícia já ouviu o piloto e outros sobreviventes. Uma das linhas de investigação avalia se houve falha mecânica, erro humano ou negligência operacional. A possibilidade de indiciamento por homicídio culposo ou doloso também está sendo considerada.

Enquanto a apuração segue, o clima na cidade é de luto. O céu de Praia Grande, normalmente colorido pelos passeios de balão, amanheceu cinza e silencioso no domingo seguinte à tragédia.