Ministério do Trabalho quintuplica gastos e direciona contratos a ONGs ligadas a sindicatos e alvos de investigação
De acordo com a Folha, o Ministério do Trabalho, sob o comando de Luiz Marinho (PT), quintuplicou os valores destinados a convênios com ONGs em 2024, passando de R$ 25 milhões para R$ 132 milhões. Grande parte dos recursos foi direcionada a entidades ligadas ao sindicalismo, justamente a base política de onde emergiu o próprio Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Entre as campeãs de repasses está a Unisol (Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil), fundada com apoio direto do sindicato do ABC e hoje presidida por um antigo aliado de Marinho, Arildo Mota Lopes. A ONG viu seu faturamento com o governo saltar de um teto de R$ 4,2 milhões por ano para R$ 17,6 milhões em 2024 — um crescimento que coincide com a volta do PT ao comando do Ministério do Trabalho.
Das dez entidades que mais receberam repasses do Ministério, quatro têm ligação direta com o movimento sindical.
As duas maiores beneficiadas, além da Unisol, são o Instituto de Políticas Públicas Brasil Digital, que recebeu R$ 36,1 milhões e é alvo de investigação da Controladoria-Geral da União (CGU) por suspeita de fraudes, e o Instituto Brasileiro de Cidadania e Ação Social (Ibras), com R$ 25,9 milhões, declarado inidôneo em janeiro de 2025.
Relatórios da CGU revelam indícios de combinação prévia de propostas, descumprimento de obrigações e prejuízo de ao menos R$ 1,6 milhão aos cofres públicos em contratos investigados.
O Ministério do Trabalho afirmou que as entidades apresentaram a documentação exigida no momento da contratação e que os repasses suspeitos estão suspensos até nova análise da CGU.
O caso da Unisol chama atenção especial: além da ligação histórica com o ministro Luiz Marinho, a ONG foi escolhida para coordenar ações de retirada de lixo na terra indígena Yanomami, a milhares de quilômetros de sua sede, em São Bernardo do Campo (SP). O contrato de R$ 15,8 milhões é financiado com verba emergencial para combater a crise humanitária na região.
Procurada, a Unisol não esclareceu como pretende executar o serviço em território tão distante de sua base operacional.
O Ministério do Trabalho alega que o crescimento dos repasses decorre, em sua maioria, de emendas parlamentares impositivas — que o governo é obrigado a executar. Dos R$ 76,3 milhões dos dez maiores contratos, R$ 60,6 milhões vieram dessas emendas.
No entanto, a CGU já alertou que o ministério não criou mecanismos eficientes de controle dos convênios, aumentando o risco de irregularidades e desvios.