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Luto e saudade marcam rotina de família após assassinato de adolescente em Manaus

Welison e Gutemberg Amorim destacam perfil pacífico e sonhos interrompidos do irmão Fernando Vilaça, morto aos 17 anos

“Não basta dar educação ou criar seus filhos com inocência. O mundo aí fora não é para os bons.” A frase dita por Welison Amorim, 32, e compartilhada pelo irmão Gutemberg Amorim, 28, traduz a dor que tomou conta da família após a morte de Fernando Vilaça, de 17 anos, vítima de uma agressão violenta na zona Leste de Manaus.

Fernando, estudante do terceiro ano do ensino médio, foi agredido por outros adolescentes no bairro Gilberto Mestrinho, em um episódio que, segundo testemunhas, teve motivação homofóbica. Ele havia saído para comprar leite quando foi insultado com xingamentos, reagiu ao ataque e acabou espancado. Internado por quatro dias, não resistiu aos ferimentos e morreu no domingo, 6 de julho.

O delegado Luiz Rocha, titular da Delegacia Especializada em Apuração de Atos Infracionais (Deaai), explica que “no vídeo aparecem seis pessoas: a vítima, os dois suspeitos, os irmãos da vítima e uma vizinha. Fernando teria entrado em luta corporal com o adolescente de 16 anos, onde caíram no chão. O primo de 17 anos aproveitou-se do momento para chutar a cabeça da vítima, o que ocasionou sua morte”.

Um dos adolescentes, o de 16  anos de idade, se entregou à polícia. A investigação segue para localizar e apreender o outro suspeito.   (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

(Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

LUTO E SAUDADES

A rotina da família foi desfeita pelo crime. Para Welison e Gutemberg, Fernando era exemplo de responsabilidade e esperança. Vivia entre a escola e o lar, onde cuidava de dez gatos e dois cachorros. “Ele não gostava de estar na rua. O mundo dele era dentro de casa, com os gatos dele”, relembra Gutemberg. “A gente aprendia com ele. Ele deixa um legado. Paciência, positividade… nunca vi ele de cara feia”, acrescenta Welison.

O jovem sonhava em aprender a dirigir, fazer faculdade e comprar uma casa melhor para a mãe e a irmã especial. “Ele queria ajudar a família. Ele falava que depois do pé de meia ia dar entrada na carteira de motorista”, lembra Welison. Nos momentos de lazer, era presença certa em partidas de futebol, torcendo pelo São Paulo Futebol Clube e pelo Amazonas FC, acompanhando os jogos pelo WhatsApp com o pai ou indo à Arena da Amazônia com colegas da escola. “A hora que ele prometia voltar, ele voltava. Ele era certinho. O lazer dele era esse, futebol na escola e assistir jogo”, diz Welison.

A escola onde estudava prestou homenagem ao jovem após sua morte. Há relatos de que um dos agressores também era aluno do mesmo colégio e já havia sido denunciado por comportamento violento. A reportagem questionou a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) sobre o histórico do adolescente e aguarda resposta.A Escola Estadual Jairo da Silva Rocha, onde Fernando Vilaça estudava. Após a morte do estudante, a instituição prestou homenagem em memória do jovem. Foto: Jeiza Russo

A Escola Estadual Jairo da Silva Rocha, onde Fernando Vilaça estudava. Após a morte do estudante, a instituição prestou homenagem em memória do jovem. Foto: Jeiza Russo

 Em casa, Fernando era fonte de fé e serenidade. “Às vezes, eu e meu irmão ficamos estressados por não conseguirmos trabalhar, principalmente quando chovia”, conta Welison. “Mas o Fernando dizia: ‘Às vezes é Deus tirando vocês do perigo’.” Para os irmãos, essa era a essência de Fernando: paciência e esperança diante das adversidades. “Nunca vi ele de cara feia. Sempre dava conselho pra gente. Ele deixou um legado que é pra gente aprender a ter paciência”, diz Gutemberg.

O luto agora domina a família, que se revezam para cuidar da mãe, emocionalmente abalada. “Esses dias, eu e ele nem estamos conseguindo trabalhar. A gente não quer deixá-la só”, conta Welison. O imóvel onde Fernando cresceu, no bairro Gilberto Mestrinho, foi colocado à venda, um gesto simbólico para tentar amenizar a dor e buscar um recomeço.

*TV A CRITICA