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Irã e Israel podem se envolver em uma guerra de larga escala, segundo analistas

Todos os indícios apontam que o conflito entre Israel e Irã deve escalar para uma guerra maior. Essa é a opinião de Raphael Cohen, especialista em defesa e diretor do programa de Segurança Nacional da Rand Corporation, um think-tank com base em Washington.

Em entrevista ao Estadão, Cohen avalia que a resposta iraniana aos ataques israelenses contra as instalações nucleares do país e a alta cúpula de comando militar deve ser dura. Até agora, o Irã lançou cerca de 100 drones contra Israel e 100 mísseis balísticos.

“Israel matou uma boa parte da liderança militar iraniana e eles estão determinados a destruir todo o programa nuclear iraniano, então a menos que o Irã desista de seu programa nuclear, esse conflito não deve acabar tão cedo”, destaca o analista da Rand Corporation.

Segundo Cohen, a resposta iraniana deve ser mais forte do que os ataques do ano passado. Em abril de 2024, o Irã atingiu Israel com 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos depois de Israel matar oficiais militares do Irã em um bombardeio na embaixada do país na Síria. Já em outubro, Teerã atacou novamente com 180 mísseis balísticos por conta da morte do então líder do escritório político do Hamas Ismail Haniyeh em Teerã no mês de julho.

Resposta iraniana

Para o analista, Teerã deve contra-atacar de forma contundente porque teme o fim do regime teocrático dos aiatolás. “Se eles simplesmente não escalarem a situação agora, o regime estará em perigo. Khamenei não quer que o público interno sinta que o Irã está se curvando aos israelenses. A principal mensagem deste regime é a luta contra os israelenses e o Ocidente”.

Cohen aponta que Israel também não tem interesse em ‘desescalar’ o conflito neste momento. “O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu deixou claro que o foco desta guerra é acabar com o programa nuclear iraniano, então ele não vai parar agora”.

Após o início dos ataques, Netanyahu descreveu os bombardeios como o último recurso para evitar um Irã com armas nucleares, que Israel vê como uma ameaça existencial. Esta foi a primeira vez que Tel-Aviv atingiu com sucesso as instalações nucleares de Teerã após anos de preparação. Embora a extensão dos danos nas instalações nucleares ainda não estivesse clara, a escala dos ataques surpreendeu iranianos e israelenses.

Para André Lajst, cientista político e presidente executivo da StandWithus Brasil, o Irã precisa avaliar o impacto de sua resposta militar. “Se o Irã atacar bases americanas no Oriente Médio, então ele vai receber ataques dos Estados Unidos junto com Israel. Se eles atacarem Israel com mísseis intercontinentais, então Tel-Aviv vai aumentar ainda mais o poder de fogo contra eles”.

Eixo da resistência

A resposta iraniana deve contar com a ajuda de alguns grupos armados que o Irã apoia na região, como os Houthis, no Iêmen, e milícias no Iraque, mas sem grande poder de fogo, de acordo com Cohen, da Rand Corporation.

“Os Houthis podem lançar mísseis contra Israel, assim como alguns grupos no Iraque. Mas esses grupos têm um alcance limitado, então a guerra deve ficar entre Israel e Irã mesmo”, disse Cohen.

Nos últimos meses, organizações terroristas como o HamasJihad Islâmica e Hezbollah foram muito enfraquecidas por conta da guerra com Israel e não devem se juntar ao Irã neste momento.

“O Hezbollah era a milícia que poderia fazer alguma frente contra Israel, mas foi praticamente decapitado no ano passado, então eles não devem se envolver no conflito. O Irã também perdeu o regime sírio com a queda de Assad, então a teocracia está muito isolada e enfraquecida”, segundo Lajst.