Amazonas

Estiagem afeta o cotidiano de alunos do interior do Amazonas

Aproximadamente 400 alunos da rede pública do estado estão sendo prejudicados com a vazante dos rios

A estiagem é um fenômeno que atinge o Amazonas todos os anos, especialmente na região do interior. O período traz uma série de desafios para as comunidades ribeirinhas, que enfrentam cada vez mais dificuldades de acesso ao transporte, alimentação e educação.

Aproximadamente 400 alunos da rede pública do estado estão sendo prejudicados com a vazante dos rios no Amazonas, de acordo com informe da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc-AM) divulgado no dia 19 de setembro. A secretaria alertou ainda que caso a vazante se perdure, mais de 20 mil alunos terão suas atividades escolares impactadas.

Ainda segundo a secretaria, os estudantes que moram em comunidades de Benjamin Constant, Careiro da Várzea, Novo Aripuanã, Tefé e Tonantins terão que repor aulas em calendário especial.

‘Vazante histórica’

Para a professora Francisca Tauane, que coordena o ensino nas comunidades Prosperidade, Nova Prosperidade e Bom Sucesso, os alunos e professores já não conseguem chegar até a Escola Estadual Indígena Cacique Manuel Florentino Mecuracu, no Distrito de Feijoal.”Realmente o acesso está muito mais difícil, até porque essa é uma vazante histórica. As maiores dificuldades são enfrentar os longos percursos até as escolas, uma vez que com o rio com o nível de água baixíssimo, os barrancos ficam gigantescos e íngremes, a distância entre uma comunidade e outra, mesmo por água, aumenta consideravelmente”, descreveu a educadora.

Além das dificuldades de navegar pelos rios, o verão amazônico traz também altas temperaturas e poucas chuvas. Segundo a educadora, estes fatores dificultam ainda mais o trajeto.”O calor e o sol forte também são fatores que prejudicam bastante, nessa época do ano, muitos alunos e professores se sentem mal, muitas dores de cabeça e dificuldade para respirar”, acrescentou Tauani.

‘Ilhados’

Outros estudantes afetados são os que residem na comunidade de Ubin, em Beruri. A região reúne pelo menos 35 famílias. Segundo a educadora Astrid Silva que recentemente visitou o local, as viagens têm sido cada vez mais difíceis.”Os ribeirinhos têm sofrido bastante. O barco não âncora, ele pára no meio do rio, a gente passa para uma voadeira com as coisas para poder chegar na Comunidade e sobe um barranco bem alto, no caso através de uma Escada de quase 50 degraus”, declarou Silva.

Seca severa

Segundo a pesquisadora em geociências do Serviço Geológico do Brasil, Jurrasa Cury, as principais bacias dos rios afluentes como o Rio Negro e o Rio Solimões têm apresentado comportamento de vazante que está abaixo da faixa da normalidade para a época. As médias diárias giram em torno de 15 centímetros, o que pode ser considerado uma seca severa.”Há uma percepção de seca severa em função da estiagem. A região apresenta a ausência de chuvas, o que foi consolidado no mês de agosto e setembro”, destacou.

Outros desafios

A falta de acesso às escolas devido à estiagem também afeta diretamente o aprendizado dos alunos. A interrupção das aulas pode levar a um atraso no currículo escolar e comprometer o desenvolvimento educacional das crianças e adolescentes.

Além disso, a falta de estrutura adequada nas escolas do interior do Amazonas dificulta ainda mais a recuperação desses conteúdos perdidos pelos estudantes. Muitas escolas enfrentam problemas de infraestrutura, como salas de aula precárias e falta de recursos educacionais, o que torna ainda mais desafiador o processo de ensino e aprendizagem.

Zona rural tem desafios o ano todo

Não é apenas no verão amazônico que estas escolas enfrentam desafios. Segundo a professora Francisca Tauani, a comunidade escolar também precisa de atenção durante o inverno amazônico.”A zona rural enfrenta desafios durante o ano inteiro, pois durante a vazante enfrentamos um cenário dificultoso para alunos e professores, onde até entregar merenda e material didático é difícil, pois a logística deve ser toda pensada para navegar em locais rasos e andar longas distâncias. Na época do inverno amazônico, o acesso às escolas melhora, fica mais perto de chegar às localidades, em compensação existe a maior possibilidade de temporal, o que prejudica o deslocamento de muitos alunos que moram numa comunidade e estudam em outra”, pontua Tauani.

Planejamento

Além da reposição de aulas, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar disponibilizará, por meio do Programa de Apoio a Gestão Escolar (Pague), recurso aos Conselhos Escolares para aquisição de kits de alimentação para os alunos em vulnerabilidade alimentar. O montante de R$ 1,6 milhão pode ser utilizado para aquisição de kits, caso ultrapassem os 20 mil estudantes afetados, em razão do isolamento causado pela vazante dos rios.  

Atualmente, a estiagem já afeta 256 estudantes das comunidades Deus é Pai, Ponta da Sorva, Aranatuba, Moquentaç, Santa Cruz do Tarará, Pirarara, Macari, Bacuri, Igarapé Açu, São Francisco do Itaúba, Nova Jeruzalém Cocama, Mirini, Cairara, Marajó, Feliciana, Barreirinha, Bela Conquista, São Domingos I (todas de Tefé); 58 da Comunidade Abelha (Novo Aripuanã); 27 alunos comunidades Prosperidade 2 (Benjamin Constant), 7 alunos da comunidade São Domingos I (Tonantins) e 7 estudantes da comunidade Divino Espírito Santo (Careiro da Várzea). Totalizando 355 alunos afetados na seca.

Transtornos na educação

A secretária Municipal de Educação de Beruri, Kátia Luzia, informa que a estiagem trás  transtornos para a continuidade do calendário escolar, que vão desde a restrição e/ou limitações do acesso de crianças às instituições.

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