Bolsonaro diz que não passou faixa a Lula para não tomar a ‘maior vaia da história’
Em depoimento a Moraes, ex-presidente afirma que ‘não havia mais nada a fazer’ após a derrota nas eleições
BRASÍLIA – No depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que não passou a faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na posse do petista, em 1º de janeiro de 2023, para não tomar uma vaia.
Ao negar que tenha havido algum planejamento de ações golpistas após as eleições de 2022, ele afirmou que não tinha “mais nada a fazer” após a derrota para Lula no segundo turno.
“Não havia da nossa parte procurar, não existia essa vontade, o sentimento de todo mundo era que não tínhamos mais nada a fazer, entubar o resultado das eleições. O senhor pode me perguntar: por que não passou a faixa? Eu não ia me submeter à maior vaia da história do Brasil”, disse.
Após Moraes pontuar que não faria essa pergunta a Bolsonaro, o ex-presidente complementou: “sei que o senhor não ia, mas seria uma explicação. Alguns dizem que muita coisa aconteceu porque não passei a faixa. Eu não ia me submeter a passar a faixa para esse atual mandatário que está aí”.
Bolsonaro é o quarto réu a depor no segundo dia de interrogatórios dos integrantes do chamado “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da suposta trama golpista contra Lula. Antes deles, falaram o general Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e Segurança Pública).
Os interrogatórios acontecem na sala de sessões da Primeira Turma do STF. O núcleo 1 tem oito réus, incluindo Bolsonaro. Os depoimentos começaram na segunda-feira (9), quando falaram o tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência) e o deputado federal Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin).
A Primeira Turma julga a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Baseada em investigação da PF, ela diz que o grupo encabeçado por Bolsonaro teve papel central na tentativa de ruptura institucional. A denúncia foi aceita pelo STF em março.
Os réus respondem por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem chegar a 43 anos de prisão.