Ao lado de Putin, Lula ataca os EUA, omite déficit com a Rússia e silencia sobre crimes de gu3rra
Durante visita oficial à Rússia nesta sexta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas às tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, mas evitou qualquer menção ao crescente déficit comercial com Moscou e silenciou completamente sobre o mandado de prisão internacional que pesa contra Vladimir Putin, por crimes de guerra na Ucrânia.
No encontro com o presidente russo, Lula declarou que as decisões unilaterais dos EUA — como as tarifas de até 25% sobre aço e alumínio — “jogam por terra o livre comércio” e “violam a soberania dos países”. O discurso, recheado de termos como multilateralismo, respeito e cooperação internacional, foi feito ao lado de um chefe de Estado acusado pelo Tribunal Penal Internacional de cometer crimes contra civis.
“As últimas decisões anunciadas pelo presidente dos EUA de taxação de comércio com todos os países do mundo de forma unilateral joga por terra a grande ideia do livre comércio”, disse Lula.
O contraste entre a retórica e a prática é evidente. Enquanto denuncia medidas comerciais dos Estados Unidos como abusivas, Lula evita qualquer crítica ao desequilíbrio comercial com a Rússia — um país com o qual o Brasil já acumula bilhões em déficit, resultado da compra crescente de fertilizantes e diesel, enquanto exporta commodities agrícolas de baixo valor agregado, como carnes, soja, açúcar e café.
Apesar de episódios anteriores em que a Rússia barrou a importação de carne brasileira, Lula não fez nenhuma menção ao tema. Ao contrário: propôs parcerias em energia nuclear, incluindo o desenvolvimento conjunto de usinas nucleares de pequeno porte, e reforçou o desejo de ampliar a relação com Moscou.
“Essa minha visita aqui é para estreitar e refazer, com muito mais força, a nossa construção de parceria estratégica”, afirmou.
A agenda se insere na política externa que o governo petista chama de “soberana” e “multipolar”, mas que tem se traduzido, na prática, em um alinhamento pragmático com regimes autoritários como os de Rússia, China, Venezuela e Irã — todos criticados internacionalmente por violações de direitos humanos e restrições à democracia.
Lula, que frequentemente invoca o Tribunal Penal Internacional para criticar países como Israel, não fez qualquer menção ao fato de Putin ser procurado pelo mesmo tribunal, acusado de crimes de guerra na Ucrânia. O silêncio reforça a percepção de seletividade do governo brasileiro na aplicação de seus próprios princípios diplomáticos.