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Amazonas registra aumento de 70% nos casos de dengue e país vê risco de pandemia do ‘sorotipo 3’

A dengue é uma doença exantemática, ou seja, apresenta mancha vermelhas na pele. “Além disso se tem febre alta, dor de cabeça, dores no corpo

O Amazonas registra aumento de 70,46% nas notificações dos casos de Dengue de acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). De janeiro a outubro deste ano já foram notificados 15.038 mil casos com nove mortes em comparação com o mesmo período ano passado foram 8.822 mil notificações da doença e 12 óbitos em todo o estado. Os dados foram divulgados à reportagem nesta sexta-feira (24). 

Elder Figueira, mestre em Biologia Ambiental pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS-AM, explicou que grande parte do aumento percentual nas notificações do caso de Dengue se deu em casos ocorridos em cidades pequenas do interior do estado que ainda não haviam passado por um surto da doença.  

“Grande parte dessas notificações vieram de municípios menores que passaram pela primeira vez por um surto de dengue. Então gostaria de alertar os gestores, de ficarem atentos às primeiras notificações e fazer o enfrentamento conforme as diretrizes do Programa Nacional de Controle da Dengue. Para que seja feito o controle do surto logo no início e não se torne um grande problema para a população”, disse Figueira.

Com a seca histórica que o Amazonas enfrenta neste ano – e colocou todos os 62 municípios em situação de emergência – a FVS-AM emitiu um alerta aos gestores municipais quanto ao armazenamento de água parada, uma vez que se torna local de proliferação do mosquito vetor da Dengue. Segundo Figueira, a fundação trabalhou em concomitância com os municípios para coibir o aumento populacional do inseto.

“A gente sabe que com a estiagem houve também dificuldade de acesso à água potável e os moradores começaram então a estocar em tonéis, em tamburões, em baldes dentro de casa e isso poderia vir a se tornar um criador para o Aedes (aegypti)”, pontuou Figueira. “É preciso estar alerta de que os ovos das fêmeas no mosquito são muito resistentes à seca, então eles ficam viáveis mesmo nesse período”, complementou.

Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue possui quatro sorotipos e uma vez infectado por um deles, o paciente adquire imunidade contra aquele tipo, mas ainda fica suscetível aos demais. Em novembro deste ano o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o infectologista Júlio Codra, declarou que o Brasil pode enfrentar uma pandemia de dengue do sorotipo 3.

Para o médico um dos motivos para o agravamento da doença seria a baixa imunidade – ausência de anticorpos – o fenômeno climático El Niño somado ao aumento da temperatura global como fatores que irão influenciar a proliferação do mosquito vetor da doença e consequentemente aumento dos casos nos municípios. Para o especialista o sul do país seria o mais afetado e por isso defende um plano de contingência para todo o território nacional. 

A Fiocruz Amazônia e o Instituto Oswaldo Cruz em maio deste ano divulgaram que o sorotipo 3 da Dengue foi detectado em quatro pacientes brasileiros oriundos dos estados de Roraima (RR) e Paraná (PR). Isso acendeu um alerta nos pesquisadores de um novo surto causado pelo sorotipo viral. De acordo com as instituições o tipo 3 circulou nas Américas e causou epidemias no Brasil no começo dos anos 2000.

Segundo Figueira não há notificação no AM de casos para o sorotipo 3 e o mais frequente na população amazonense – capital e interior – são os sorotipos 1 e 2 detectados no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). “Teoricamente uma pessoa pode ficar doente de dengue quatro vezes.  A grande questão da introdução de um novo sorotipo é que toda a população está suscetível. Como ainda não existe uma vacina disponível na ID do SUS para atender toda a população, as recomendações são as mesmas para os quatro sorotipos”, disse. 

 Vacinas

 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 2 de março deste ano, por meio da resolução 661/2023 o registro de uma nova vacina para a prevenção da dengue: a Qdenga, da empresa Takeda Pharma Ltda, indicado para público de quatro a 60 anos. O imunizante é composto por quatro diferentes sorotipos do vírus causador da doença, o que garante ampla proteção contra o comorbidade. 

O único imunizante aprovado pela Anvisa era o Dengvaxia do laboratório francês Sanofi- Pasteur que teve a bula alterada em novembro do ano passado. A vacina é recomendada para pessoas que já tiveram dengue e moram em áreas consideradas endêmicas – locais onde 70% das pessoas já tiveram contato com o vírus –, e contraindicada em indivíduos que nunca tiveram dengue. 

As duas vacinas não estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A reportagem procurou o Ministério da Saúde (MS) e questionou o motivo dos imunizantes ainda não estarem disponíveis no SUS, assim como se farão parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Questionou-se também se a entrada de pessoas oriundas de outros países infectadas com dengue está em monitoramento. Até o fechamento desta matéria não tivemos resposta. 

 Sintomas fortes

 O doutor em Doenças Tropicais e Infecciosas e coordenador do Grupo Amazônico de Pesquisa Interdisciplinar em Saúde, Allyson Costa, explicou que sorotipo 3 tem pequenas mudanças estruturais em comparação com os sorotipos 1 e 2, o que resulta em sintomas mais fortes nos pacientes. Segundo ele, isso se dá porque o infectado já tem anticorpos para os dois primeiros vírus e o contato com o novo tipo causa sintomas mais fortes. 

“Essas diferenças não tem implicações relacionadas a agressividade ou letalidade. Quem já teve dengue uma vez ou duas, e entrar em contato com o tipo 3 pode desenvolver uma resposta mais acentuada. Ou seja, mais sintomas: febre, dor de cabeça e dor no corpo. A pessoa já tem uma resposta imunológica contra o sorotipo 1 e 2 e o nosso organismo não entende e produz muita resposta imunológica e isso se traduz e muitos sinais clínicos ”, disse Costa.

Allyson lembra que o último surto de dengue ocorreu em meados 2007 ocasionado pelo tipo 3. “Tem quase 20 anos. O perfil populacional mudou, então, as pessoas estarão mais suscetíveis a serem infectadas com esse sorotipo e isso terá um reflexo no aumento do número de casos de dengue”, disse. “A gente trata o sinais e sintomas com antitérmicos, analgésicos e reposição hídrica. E o certo é pensar na prevenção: conscientizar em relação ao criadouro”, acrescentou. 

 Detecção

 A dengue é uma doença exantemática, ou seja, apresenta mancha vermelhas na pele. “Além disso se tem febre alta, dor de cabeça, dores no corpo. E uma dor retro-orbital: atrás dos olhos. É bem característico da dengue. E somado aos outros sintomas, meio que se fecha o diagnóstico de dengue pelo quadro clínico”, explicou. “A gente tem testes para detecção de antígenos e anticorpos do vírus. Esses dois são disponibilizados pela rede saúde em forma de teste rápido”, complementou. 

Os testes são feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Pronto Atendimento (UPA), Unidades de Saúde da Família (USF) e Serviços de Pronto Atendimento (SPA). “Esses indivíduos infectados não precisam ficar internados. Ele fica em casa, mas, caso tem um agravamento dos sinais e sintomas com sangramentos – na urina e gengiva – o ideal é que procure assistência médica de urgência”, finalizou Costa.

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