Norte Energia investe em software para energia verde
A Norte Energia, concessionária responsável pela Usina Hidrelétrica Belo Monte, está liderando um projeto no setor de energia com o desenvolvimento de um software inédito voltado para a gestão de microrredes fotovoltaicas isoladas. O objetivo dessa iniciativa é otimizar a produção e o armazenamento de energia limpa e renovável, utilizando hidrogênio verde, para atender comunidades remotas, especialmente aquelas que não têm acesso constante à rede elétrica.
O projeto, denominado Microrrede Fotovoltaica Isolada com Armazenamento de Energia Elétrica em Hidrogênio Verde para Atendimento Contínuo de Carga (MIRAVH), visa uma solução sustentável para as comunidades que, atualmente, dependem de geradores a diesel para suprir suas necessidades energéticas. Uma das características essenciais do sistema é a capacidade de continuar fornecendo energia mesmo em condições climáticas desfavoráveis, quando a geração fotovoltaica é reduzida. O hidrogênio verde, produzido a partir da energia solar excedente, será armazenado e utilizado quando necessário, buscando proporcionar uma fonte contínua de eletricidade.
O projeto da ERA Energia conta com o apoio de um time que inclui a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), além da colaboração de parceiros em áreas específicas, como o fornecimento dos sistemas de hidrogênio. A iniciativa foi estruturada com o financiamento da Norte Energia, que é uma das pioneiras no país a investir nesse tipo de tecnologia, considerada crucial para a transição energética e a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Tecnologia e estrutura do projeto
A planta piloto, que está sendo desenvolvida em Vitória do Xingu, no sudoeste do Pará, será composta por um sistema fotovoltaico off-grid de 25 kWp (quilowatts-pico), que não estará conectado à rede elétrica convencional. O sistema irá gerar energia elétrica que será convertida em hidrogênio verde por meio de um eletrolisador de 12,5 kW, também fornecido pela ERA Energia. Este processo de eletrólise da água utiliza a eletricidade para separar as moléculas de H₂O em hidrogênio (H₂) e oxigênio (O₂), produzindo energia de forma 100% renovável.
O hidrogênio gerado será armazenado em tanques específicos e pode ser reconvertido em eletricidade por meio de uma célula a combustível a hidrogênio verde de 10 kW, operando no modelo power-to-power, ou seja, a energia elétrica é convertida em hidrogênio, armazenada e, quando necessário, reconvertida em eletricidade para consumo. Esse processo faz com que a energia seja disponibilizada de forma contínua, mesmo em momentos de baixa geração fotovoltaica devido a condições climáticas adversas.
Com uma capacidade de armazenamento de 45 kg de hidrogênio, a microrrede projetada tem o potencial de atender até cinco residências, com quatro moradores cada, por até 48 horas. Esse tempo de fornecimento contínuo é fundamental para regiões remotas, onde o acesso à energia elétrica é precário e a dependência de fontes poluentes, como os geradores a diesel, é comum.
Desafios e potencial de expansão
Apesar de seu grande potencial, o uso de hidrogênio verde ainda enfrenta desafios, principalmente em relação ao alto custo de produção e à necessidade de avanços tecnológicos e científicos para viabilizar sua adoção em larga escala. Porém, a Norte Energia aposta que essa tecnologia será essencial para a transição energética e poderá servir como alternativa para suprir a crescente demanda por fontes de energia renováveis, especialmente em áreas isoladas, como as comunidades da Amazônia.
A gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) da Norte Energia, Andreia Antloga, afirmou que o projeto MIRAVH representa mais um avanço da companhia na busca por soluções sustentáveis para o setor energético. Ela destaca que, além de promover o uso de energia limpa em uma região estratégica do país, a iniciativa contribui para a descarbonização do setor energético, com uma solução que não depende de fontes fósseis de energia.
A iniciativa também conta com a colaboração do professor André Leão, da Universidade Federal do Pará, que acredita no impacto global do projeto. Ele destaca que, em qualquer local do mundo onde haja disponibilidade de luz solar e água, é possível implementar microrredes como essa, substituindo a utilização de combustíveis fósseis como o diesel. O projeto é uma resposta à necessidade de descarbonização global e ao crescente interesse por fontes alternativas de energia em comunidades remotas.
Sustentabilidade e futuro da iniciativa
A utilização do hidrogênio verde como forma de armazenamento de energia é uma solução sustentável que pode beneficiar muitas regiões que, atualmente, dependem de fontes não renováveis. O CEO da ERA Energia, Diego Rafael Staub, reforça que a tecnologia de hidrogênio verde é uma alternativa segura e eficiente para o armazenamento de energia elétrica excedente. “O projeto MIRAVH é uma demonstração de como podemos unir tecnologia avançada e respeito ao meio ambiente para criar soluções sustentáveis e acessíveis para o futuro da energia”, afirma Staub.
O cronograma do projeto prevê a entrega dos equipamentos necessários no segundo semestre de 2025, com a viagem de engenheiros ao exterior para receber e testar os materiais. O sistema e todos os componentes foram fabricados na China e estão em fase de certificação, o que permitirá que o projeto entre em operação nos próximos anos.