Política

Com 315 votos pró-Bolsonaro, Câmara escancara risco de impeachment para Lula

A decisão da Câmara dos Deputados de aprovar a suspensão da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi mais do que uma vitória política da oposição: ela acendeu um sinal de alerta dentro do governo Lula. O placar — 315 votos favoráveis — escancarou o risco de fragilidade parlamentar do Palácio do Planalto e colocou o impeachment na mesa. Faltam apenas 27 votos para atingir o quórum de 342 necessário para autorizar a abertura de um processo contra o presidente da República.

Auxiliares de Lula reconheceram nos bastidores que o número surpreendeu. A movimentação deixou claro que há uma maioria consolidada na Câmara disposta a reagir contra o Supremo Tribunal Federal (STF) — e, se necessário, contra o próprio Executivo.

A tensão institucional cresceu depois que o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), consultou o STF para saber se a suspensão aprovada beneficiaria apenas Ramagem ou também outros réus da mesma ação, como Jair Bolsonaro. A resposta, dada pelo ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF, frustrou os deputados: a Corte informou que a suspensão só valeria para parlamentares e apenas em relação a crimes cometidos após a diplomação.

A tentativa de estreitar o alcance da decisão da Câmara foi lida por líderes do Centrão como interferência judicial sobre prerrogativas do Legislativo. Irritados, parlamentares pressionaram o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a responder com firmeza ao Supremo e defender o espaço político da Casa.

A resposta institucional não veio apenas em ofícios: veio na votação. O projeto para sustar a ação penal contra Ramagem — que também abre caminho para proteger Bolsonaro e aliados — foi aprovado com folga e uniu oposição e setores do Centrão que veem o avanço do STF como ameaça direta à classe política.

Deputados do Centrão foram claros: não querem perder o escudo institucional contra eventuais ofensivas da Justiça. A oposição, por sua vez, aproveitou a brecha para pressionar o governo e fortalecer a narrativa de enfrentamento aos abusos do Judiciário — uma pauta popular entre a base bolsonarista e setores do eleitorado antipetista.

No Planalto, o recado foi lido com gravidade. O número de votos favoráveis ao trancamento da ação penal contra Ramagem é quase o mesmo exigido para afastar o presidente da República. E o pior: a votação foi vencida sem um grande esforço articulado da oposição.

A leitura entre assessores é que, se o governo continuar errando na articulação política — como ao provocar o STF com consultas que desagradam o Congresso —, a oposição não terá dificuldade em construir os votos que faltam para dar início a um processo de impeachment.

Agora, a expectativa é que o STF derrube parcialmente a suspensão da ação penal aprovada pela Câmara, mantendo o processo contra os demais réus. A Corte deve reafirmar que apenas parlamentares podem ser beneficiados — e ainda assim, apenas em atos cometidos após a diplomação.

A resposta do STF será o estopim para os próximos movimentos da Câmara. E, diante da deterioração do ambiente político, um novo embate entre Legislativo, Judiciário e Executivo está em formação — com potencial para escalar rapidamente.