ManausTragédia

Famílias visitam local de incêndio após tragédia: ‘só fiquei com a roupa do corpo’

Diretor de operações da Defesa Civil municipal diz que é hora de o governo estadual retirar as outras famílias do local.

Um dia após um incêndio ter destruído 30 casas na comunidade Beco dos Céus, Centro, as vítimas da tragédia estiveram no local, ainda abaladas, para ver o que restou na região. De acordo com a Defesa Civil do município, 137 famílias foram afetadas pelo incidente. Parte delas foi encaminhada para casas de familiares e o restante está na Escola Municipal Dr. Sérgio Alfredo Pessoa Figueiredo, no bairro Matinha. Não houve vítimas fatais.

O pintor Antônio Lopes estava em serviço quando uma vizinha ligou para avisar que as casas estavam pegando fogo. A esposa dele e a filha não estavam em casa, mas a cadelinha da família, Bela, estava na residência durante o incêndio. Ela não foi mais encontrada. 

“Essa cachorra chegou num momento muito especial. Ela não era só uma animal, fazia parte da família. Estava com a gente há quatro anos. Agora ela não se encontra mais aqui. Não está com a gente”, diz ele.

Antônio observava de longe o local onde ficava a sua residência. A casa possuía uma sala, cozinha, dois quartos e um pequeno comércio da família. Hoje, tudo o que restou foi uma pia, ferros retorcidos do que eram duas freezers e muitas madeiras queimadas. Ainda saía fumaça no meio do entulho no momento da visita da reportagem. 

“Ainda não sei o que vamos fazer. A minha esposa e a minha filha estão na casa dos nossos parentes. O que sei é que queremos nossos direitos. A gente paga imposto e é nosso direito ter uma casa. E a gente vai lutar por isso agora, para que o governo faça algo por nós”, comenta.

A família do pintor foi cadastrada pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc) assim como as outras vítimas da tragédia. A prefeitura está fazendo o direcionamento dos afetados para casas de parentes e pretende pagar um auxílio aluguel. A previsão oficial é que eles recebam em até 30 dias, mas já há mobilização para que o prazo seja adiantado em uma semana. 

“Estamos fazendo agora o trabalho de liberação das residências. Sobre as famílias, elas estão em uma escola de administração municipal, recebendo café da manhã, almoço e assistência psicológica. Já fizemos o pedido para a Manaus Energia e para a Águas de Manaus refazerem as ligações aqui no local”, disse para A CRÍTICA o diretor de operações da Defesa Civil, José Mendes.José Mendes, Diretor de operações da Defesa Civil (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Segundo ele, o terreno do local onde ficavam as casas é do governo estadual e a responsabilidade também recai sobre a Marinha do Brasil, considerando que a área está próxima à beira do rio. Ele ressaltou a necessidade de ambos, governo e Marinha, atuarem na região. Isso porque, além das casas que já queimaram, outras estão sob risco não só de incêndio, mas de serem prejudicadas com a cheia deste ano. 

“Isso aqui está atrelado ao governo do Amazonas, ao Prosamin+, então agora é a hora de o governo olhar por esse lado aqui, fazer um plano de ação e tirar essas famílias daqui”, pontua o diretor de operações da Defesa Civil municipal. Moradores também disseram que havia uma promessa antiga de criação de um Prosamin+ no local.  

Em nota para a reportagem, a Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), ligada ao Governo do Amazonas e responsável pelo programa de habitação, negou que a área seja de responsabilidade da gestão estadual e que haja um projeto do Prosamin+ para o local. 

“A Unidade Gestora informa que a área não pertence ao Prosamin+. Não há projeto de intervenção do programa  para esta área da cidade. Por ocasião do incêndio, o Governo do Amazonas organizou uma operação de ajuda humanitária, para ajudar as famílias,  em apoio às ações do Município”, diz a nota. 

‘Perdi tudo’

 A aposentada Maria Socorro da Silva também perdeu tudo. Na casa dela, que possuía cerca de 30 metros de comprimento, moravam três famílias. Ela também alugava um quarto. Com o incêndio, tudo virou apenas escombros – das estruturas aos móveis e eletrodomésticos.

“Estava no trabalho, sou aposentada, mas ajudo uma costureira, e chegou uma mulher lá dizendo que estava pegando fogo no Centro, perto do bairro Aparecida. Liguei para o meu sobrinho de 13 anos, que estava sozinho em casa, mas ele não atendeu. Liguei para a minha sobrinha, que morava aqui, e ela disse que estava tudo pegando fogo”, lembra a idosa.

Maria Socorro da Silva (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

Ao chegar no local, as chamas já haviam consumido tudo. O neto dela conseguiu sair da casa sem ferimentos. “Só fiquei com a roupa do corpo. Não temos mais nada. Eu morava aqui há mais de 30 anos. Tive uma outra casa, depois vendi e comprei essa. Não sobrou mais nada”, afirma Maria. A família está na casa de parentes e aguarda o pagamento do auxílio aluguel para conseguir um espaço provisório.

*Com informaçoes de A Critica – (Maria Socorro da Silva (Foto: Junio Matos/A CRÍTICA)

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